Tudo parecia novo para mim: check in no balcão da Cia. Aérea, raio x na bagagem de mão, sala de embarque. Entrar naquele túnel e entrar no avião. A aeromoça dava as instruções de praxe, eu procurava prestar atenção, mas estava um tanto quanto eufórica na minha primeira viagem. Aquela acelerada para decolar, a sensação estranha nos meus ouvidos, as nuvens lá em cima: Tudo maravilhoso para mim. Outros voos viriam depois desse, sempre com a mesma emoção. Há pouco tempo atrás, tive a oportunidade de voar de parapente. Enquanto esperávamos o vento certo, o instrutor me dava as orientações: Quando ele contasse até três, eu tinha que correr, correr, eu seria puxada para trás, mas tinha que resistir e continuar correndo. Aos poucos meus pés sairiam do chão. E aí o céu era o limite. Não ter o chão sob os pés, não conseguir controlar. Estar à mercê de outra pessoa, ou mesmo das intempéries. Isso lhe parece familiar? A mim, isso lembra outra sensação, tão boa quanto, mas talvez mais avassaladora: se apaixonar.
Já me apaixonei muitas vezes: por couve com angu, pelos livros da Coleção Vagalume, e, mais tarde, pelo Machado de Assis. Me apaixono frequentemente pelo Chico Buarque e pelos Beatles (que em breve irei visitar a terra natal! Yes!!!), me apaixonei pela minha profissão. Sou enfim, uma garota apaixonada.
Estar apaixonado nos faz voar, é como no meu voo de parapente: no começo, sua cabeça diz: Volta, volta, enquanto há tempo! E te puxa para trás. Ahhhh... Se ouvíssemos a razão! Com certeza teríamos o coração menos partido e sofreríamos menos. Mas também não conheceríamos o prazer de estar envolvido, se sentir o coração disparar pela simples menção do nome de alguém, de achar maravilhosamente indispensáveis coisinhas que habitualmente ignorávamos, a sensação de desaparecerem as palavras, outros sons encherem o espaço e se abandonar num abraço, como bem cantou Elis Regina. Aliás, ela descreve tão bem o que é estar apaixonado que nem ouso tentar explicar aqui.
Ao longo dos meus humildes 27 anos – quero viver pelo menos mais 73, conheci o prazer de voar e também o prazer de me apaixonar. Refletindo sobre tudo de bom que vivi, e também o quanto já sofri, percebo que não sei ser diferente. É assim com a minha profissão de turismóloga que ainda não me deu muito bons frutos. É assim quando me pego comprando o mais novo CD do Chico. Corro, corro, corro. A razão me puxa para trás, avisando que seria melhor fazer Direito, ou baixar as músicas na internet. Mas assim como quando o avião acelera para ganhar as alturas e nosso ouvido fica como que tampado, meus ouvidos se tampam e não ouvem a razão. Corro para experimentar a sensação de me apaixonar mais uma vez.
Essa semana assisti o filme “O Homem do Futuro”, que conta a estória de um homem que inventa uma máquina do tempo e volta ao passado para tentar consertar um acontecimento no seu passado. Saí do cinema pensando que gostaria de ter uma maquininha dessas para voltar ao passado. Para mudar de ideia e não dar o número de telefone? Mantar a farsa do nome errado? De jeito nenhum. Queria ter uma máquina do tempo para fazer tudo igual e me apaixonar de novo, de novo, e de novo. Eu sei: Ainda não inventaram a máquina do tempo. E eu também não preciso dela. Tenho meus 73 anos pela frente e espero voar e me apaixonar muitas vezes ainda. O próximo voo será de asa delta no Rio de Janeiro. A próxima paixão eu não sei qual será: Você teria um bom CD ou livro para me emprestar?
*homenagem a uma amiga minha que ainda vai voar muito. E ver porque eu digo que preciso disso pra viver!
Música da Ellis que eu comentei: http://letras.terra.com.br/elis-regina/45676/

Ai que lindaaaaaaaaa chorei .... Obrigado por tudo
ResponderExcluirA primeira e única vez que voei também foi muito emocionante, pois foi minha primeira vez nas nuvens e também a ver o mar. Não segurei, chorei e cantei em meu pensamento: Foi assim, como ver o mar, a primeira vez... Sou mineira né!
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