terça-feira, 9 de julho de 2013

A arte do encontro – parte I



Olhou o relógio ansioso: Faltavam exatos catorze minutos. Todos os dias o ritual se repetia: passava as manhãs contando os minutos, torcia para que houvesse bastante movimento, na loja de joias onde trabalhava, para que o tempo passasse mais depressa. Organizava as vitrines mas de uma vez, fazia contato com clientes importantes, mexia nas gavetas.
 Há cinco anos trabalhava ali. Há quatro meses, se deliciava com aquele pequeno instante de prazer: Sempre ao meio dia e cinquenta e cinco, quando ela descia com duas amigas, pelo elevador do meio, vindo de não se sabe que andar. Conversando animadamente com as amigas, ela passava diante da loja, que ficava no saguão daquele imenso edifício, sorria e ia embora, voltando cinquenta minutos depois, entrando no elevador e desaparecendo outra vez. Ele absorvia cada nota de seu perfume, um Versace, viera saber depois de ir à importadora e experimentar dezenas de fragrâncias. Ele viajava na melodia de sua voz, clara, ainda que um pouco rouca, com um tom meigo e conciliador, divagava sonhando em ficar horas e horas conversando com a dona daquela voz. Já havia decorado a cor do cabelo dela, bem como suas roupas preferidas. Deslumbrava-se quando ela, tímida, olhava para baixo e colocava a mecha de cabelo atrás da orelha. Seria capaz de acertar os dias em que ela estava mais feliz, bem como aqueles, que ela parecia não sorrir com o mesmo entusiasmo. Aquela aparição diária iluminava seus dias. Ia se apaixonando por aquela mulher, com quem jamais havia trocado uma palavra.
A primeira vez aconteceu por acaso. Uma nova coleção havia acabado de chegar e ele conversava com os vendedores, sobre como haviam conseguido dispor aquelas joias, chamando a atenção dos clientes mais desatentos. Foi quando a imagem dela surgiu diante dele: sorridente, na companhia daquelas amigas. Vestia uma calça jeans desbotada e uma blusa vermelha. Deduzira um tempo depois que aquela era sua cor favorita, pois se repetia nos acessórios, brincos, na bolsa que ela usara certo dia.
Sonhava falar com ela, perguntar seu nome, dizer o quanto a admirava. Queria pedi-la pra tomar um café, ou outra coisa, um dia desses, mas não conseguia. A imagem dela o hipnotizava, paralisava seus reflexos, o enchia de deslumbramento e mais nada.
Há dois anos não tirava férias e o chefe já havia dado um ultimato: daquele mês não podia passar. Tinha que pensar no que fazer aquele mês de descanso, pensava em viajar, queria ir para Paraty, mergulhar em Angra. Mas já imaginava quão cinzas seriam seus dias sem ver sua musa. Aquela noite, começou a pesquisar na internet os detalhes de sua viagem. Descobriu uma agência virtual, especializada justamente em Turismo de aventura, com pacotes especiais para aquela região do Rio de Janeiro. Acabou se distraindo: escolheu hotel, alugou carro, definiu passeios e roteiros. Agora era só submeter suas escolhas à agência, e em vinte e quatro horas, dizia o anúncio, teria um retorno do agente. Estava cansado: Já eram duas da manhã quando se deitou e foi nela que pensou antes de adormecer.

Obs.: A parte dois e a parte três saem ainda essa semana.

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