segunda-feira, 29 de julho de 2013

A Arte do Encontro - Parte II


Trabalhar naquela agência de viagem era necessário. Após decidir viver naquela cidade, longe da família, precisava encontrar meios para cuidar de si sozinha. Aquele não era o trabalho que sonhara desde menina, tampouco era o que ela gostaria de fazer pelo resto da vida, Entretanto, enquanto estava lá, tratava de dar o mais encantador dos sorrisos para os clientes, mesmo por telefone. Fantasiava os motivos que os levavam a viajar e acreditava que de alguma forma, seu trabalho contribuía para um mundo mais feliz e bonito.

Jurou para si que as horas que passasse fora do trabalho seriam gastas com o que ela mais amava. Assim, ia frequentemente ao cinema, cozinhava suas comidas preferidas, enquanto ouvia jazz ou Chico Buarque, escrevia estórias, caminhava e saía com as amigas. À noite, deitava-se e abria um livro, que comprara na última viagem, com o pretexto de se distrair enquanto esperava pelo embarque. “Esse”, jurava, “esse eu vou terminar...”. A verdade é que andava muito cansada e não conseguia terminar de ler os livros, embora amasse comprá-los. Logo a leitura lhe trazia uma lembrança de sua própria vida, ou de outrem, e começava a divagar, em instantes percebia que não conseguiria ler mais aquela noite. Dormia.

Quando o despertador teimava em tocar, despertando-a de seus sonhos, respirava profundamente antes de levantar. Escolhia a roupa, colocava o lanche na bolsa. Se maquiava e passava o perfume. Tinha quatro, mas o Versace era o predileto. Ia para o trabalho, onde dera a sorte de fazer grandes amizades. A hora do almoço era sempre a mais divertida. Sempre haviam histórias a contar e a ouvir. Ia com as amigas a um restaurante natural não longe dali, onde, todas, em dieta, podiam se regalar.

Naquele dia estava cheia de trabalho. A agência havia implantando recentemente um sistema on-line, que permitia aos clientes montar suas viagens pela internet, com assessoria de consultoras, como ela. Malásia, Paris, São Luis, Nova York: Sempre brincava de imaginar quem estava por trás daquelas diversas solicitações. Quando o cliente tinha que ir à agência, pra assinar o contrato ou resolver alguma pendência, conferia para saber se acertara. E era boa nisso! Sorriu ao se deparar com uma solicitação de turismo de aventura para Paraty: era sua cidade preferida, sua especialidade. Prepararia com carinho aquela viagem. O perfil do cliente era interessante: homem, solteiro, há muito tempo não tirava férias. Montou o pacote, enviou para ele. Se surpreendeu quando e resposta veio rapidamente: ele estava inseguro com a compra pela internet, preferia acertar pessoalmente. “Tudo bem”, respondeu. “O senhor pode passar aqui à tarde, que já estarei com tudo pronto para ajudá-lo. Anote o endereço por favor”.

Olhou para o relógio vermelho sobre a mesa: Se distraíra e quase perdera a hora do almoço com as amigas. Uma delas estava especialmente agitada naquele dia, pois havia conhecido o homem de seus sonhos na noite anterior. Ela sorria animadamente. Não era a primeira vez que sua amiga conhecia o homem dos sonhos. Saindo do elevador, reparou que na loja de joias estava, como sempre, aquele homem do olhar terno. Tinha vontade de conversar com ele. Seu olhar revelava uma alma cheia de sonhos, de estórias, de lirismo e paixão. Ele sempre estava ali naquele horário. Ela ficava feliz. Sentia-se bem de olhar para ele. Sorria com os olhos. “Se ele pelo menos trabalhasse numa loja de livros...” pensava, “mas para joias eu não tenho dinheiro, se não, iria até lá: só para falar com ele”. Naquela tarde seus olhos pareciam brilhar mais intensamente. “Estou ficando louca”, pensou, e se distraiu novamente com a amiga e seu homem dos sonhos... Às cinco tinha que que atender ao cliente que ia para Paraty. Pensou na viagem. Por um instante, se imaginou com  o homem da loja de joias, sentada no cais do porto de Paraty, seu lugar preferido no mundo. “É... devo mesmo estar louca. Preciso trabalhar...”
 Link para a primeira parte

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