segunda-feira, 10 de março de 2014

Ele



“A falta de paciência hoje é a saudade de amanhã”, dizia um texto do Frederico Elboni, no blog “Entenda os Homens”, que eu acompanho há um tempo. O texto falava sobre compreender e tocava, como exemplo, no relacionamento entre pais e filhos, especialmente aquele tipo de pai que pouco se expressa com o filho, que pouco diz, que pouco abraça. Sei que o texto não dizia só disso, mas essa parte me tocou especialmente, porque meu pai é assim. Me deu uma vontade de sair correndo e dar um abraço nele!
Meu pai é o homem da minha vida. Sempre foi: quando eu era criança, lembro dele dançando música lenta comigo na sala. Engraçado, naquela época, eu não imaginava que no futuro ia me apaixonar com o bolero e dançá-lo melhor que todos os outros ritmos. Aquela dança com meu pai era mágica! Eu me sentia isolada do resto do mundo dançando com ele, dura, feliz, plenamente realizada. Eu queria que o mundo acabasse ali.



Lembro de sentar no colo dele, até depois de grande (ou velha, já que nunca fui grande “anatomicamente”). Meus irmãos sentiam ciúme. Era como se eu, mais que eles, conseguisse me aproximar mais, e talvez até transpor aquela barreira que a timidez, ou a falta de jeito, ou a rotina, havia criado entre nós e nosso pai. Sentar no colo dele era tudo pra mim! Naquele instante, eu era a pessoa mais amada do mundo. E eu, que conheceria tantos lugares, não queria sair daquele – o colo do mau pai – nunca mais na vida!
Levar o prato dele vazio para a cozinha, fazer almoço pra ele, ser acordada pelo pé todas as manhãs: Detalhes da nossa rotina passada que hoje me fazem sentir tanta saudade. Não sei se foi o trabalho, a universidade, a mudança de cidade, os namoros: hoje não é mais assim. Eu continuo amando e querendo todas essas coisas que eu contei. Tenho certeza que ele continua me amando mais que a maioria das coisas da vida.
Vamos no carro, ele me levando pra algum lugar para o qual estou atrasada. Vou calada. Quero dizer algo, mas eu, tão falante, não consigo pensar em nada propício para furar aquele silêncio. O mesmo que durante as brigas homéricas com a minha mãe permeava o olhar cúmplice e compreensivo que ele me dava. O olhar mais terno do mundo, que sempre me dava certeza que o amor existia. Que sem dizer nada, me curava de qualquer dor que estivesse sentindo, que me fazia acreditar no futuro, nas pessoas, na família.
Momentos com mau pai são cada vez mais raros. Outro dia, eu estava lá no meu quarto, assistindo um filme quando minha mãe vem e diz que ele está me chamando. Droga! O que será que ele quer? Vou ter que interromper o filme. Ele quer que eu coloque a TV dublada (ele acha que eu sei tudo sobre controles remotos, computadores e qualquer coisa que ligue na tomada ou tenha bateria recarregável). Depois de penar um pouco, consigo o que ele queria. Ele fica feliz. E eu, agora lendo o texto do Fred Elboni, e refletindo sobre tudo isso, senti vergonha da minha falta de paciência, que agora é saudade, do homem da minha vida. Mandei um SMS. Assim que puder, vou lá abraçá-lo. Faça o mesmo pra quem você ama, e anda distante ultimamente.

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