domingo, 11 de setembro de 2011

Eu amo voar*

Tudo parecia novo para mim: check in no balcão da Cia. Aérea, raio x na bagagem de mão, sala de embarque. Entrar naquele túnel e entrar no avião. A aeromoça dava as instruções de praxe, eu procurava prestar atenção, mas estava um tanto quanto eufórica na minha primeira viagem. Aquela acelerada para decolar, a sensação estranha nos meus ouvidos, as nuvens lá em cima: Tudo maravilhoso para mim. Outros voos viriam depois desse, sempre com a mesma emoção. Há pouco tempo atrás, tive a oportunidade de voar de parapente. Enquanto esperávamos o vento certo, o instrutor me dava as orientações: Quando ele contasse até três, eu tinha que correr, correr, eu seria puxada para trás, mas tinha que resistir e continuar correndo. Aos poucos meus pés sairiam do chão. E aí o céu era o limite. Não ter o chão sob os pés, não conseguir controlar. Estar à mercê de outra pessoa, ou mesmo das intempéries. Isso lhe parece familiar? A mim, isso lembra outra sensação, tão boa quanto, mas talvez mais avassaladora: se apaixonar.

Já me apaixonei muitas vezes: por couve com angu, pelos livros da Coleção Vagalume, e, mais tarde, pelo Machado de Assis. Me apaixono frequentemente pelo Chico Buarque e pelos Beatles (que em breve irei visitar a terra natal! Yes!!!), me apaixonei pela minha profissão. Sou enfim, uma garota apaixonada.
Estar apaixonado nos faz voar, é como no meu voo de parapente: no começo, sua cabeça diz: Volta, volta, enquanto há tempo! E te puxa para trás. Ahhhh... Se ouvíssemos a razão! Com certeza teríamos o coração menos partido e sofreríamos menos. Mas também não conheceríamos o prazer de estar envolvido, se sentir o coração disparar pela simples menção do nome de alguém, de achar maravilhosamente indispensáveis coisinhas que habitualmente ignorávamos, a sensação de desaparecerem as palavras, outros sons encherem o espaço e se abandonar num abraço, como bem cantou Elis Regina. Aliás, ela descreve tão bem o que é estar apaixonado que nem ouso tentar explicar aqui.
Ao longo dos meus humildes 27 anos – quero viver pelo menos mais 73, conheci o prazer de voar e também o prazer de me apaixonar. Refletindo sobre tudo de bom que vivi, e também o quanto já sofri, percebo que não sei ser diferente. É assim com a minha profissão de turismóloga que ainda não me deu muito bons frutos. É assim quando me pego comprando o mais novo CD do Chico. Corro, corro, corro. A razão me puxa para trás, avisando que seria melhor fazer Direito, ou baixar as músicas na internet. Mas assim como quando o avião acelera para ganhar as alturas e nosso ouvido fica como que tampado, meus ouvidos se tampam e não ouvem a razão. Corro para experimentar a sensação de me apaixonar mais uma vez.
Essa semana assisti o filme “O Homem do Futuro”, que conta a estória de um homem que inventa uma máquina do tempo e volta ao passado para tentar consertar um acontecimento no seu passado. Saí do cinema pensando que gostaria de ter uma maquininha dessas para voltar ao passado. Para mudar de ideia e não dar o número de telefone? Mantar a farsa do nome errado? De jeito nenhum. Queria ter uma máquina do tempo para fazer tudo igual e me apaixonar de novo, de novo, e de novo. Eu sei: Ainda não inventaram a máquina do tempo. E eu também não preciso dela. Tenho meus 73 anos pela frente e espero voar e me apaixonar muitas vezes ainda. O próximo voo será de asa delta no Rio de Janeiro. A próxima paixão eu não sei qual será: Você teria um bom CD ou livro para me emprestar?



*homenagem a uma amiga minha que ainda vai voar muito. E ver porque eu digo que preciso disso pra viver!

Música da Ellis que eu comentei: http://letras.terra.com.br/elis-regina/45676/


2 comentários:

  1. Ai que lindaaaaaaaaa chorei .... Obrigado por tudo

    ResponderExcluir
  2. A primeira e única vez que voei também foi muito emocionante, pois foi minha primeira vez nas nuvens e também a ver o mar. Não segurei, chorei e cantei em meu pensamento: Foi assim, como ver o mar, a primeira vez... Sou mineira né!

    ResponderExcluir

Voltei. Tava com Saudade.

Hoje eu voltei. Voltei porque senti saudade. Saudade do tempo que eu podia chorar no seu ombro as minhas mágoas, filosofar minhas ide...