Desde menina, ela era boa com datas. Se lembrava do dia que os pais fizeram planos sobre aquela viagem, pois foi nesse dia que a mãe havia feito lasanha. Associava um evento ao outro e com isso conservava na memória a data de cada acontecimento. As amigas se espantavam de como ela se lembrava de cada episódio da faculdade, de cada viagem, de cada bar que conheceram. E que voltaram a conhecer. Era o caso do bar daquela noite de 29 de agosto. E não há nada de especial que a faça se lembrar daquela data. Ela havia chegado mais tarde no trabalho e brigara com a chefe, que por algum motivo se sentia desafiada por ela. Tudo que precisava, no final do dia, era sambar. Sair com as amigas e ouvir o melhor dos ritmos. Não sabia que aquela noite de 29 de agosto iria modificar sua vida de uma maneira que jamais pensou. Como Tereza e Thomas, que precisaram de seis acasos para se encontrar, naquela noite houveram muitos acasos também. É por isso que essa data é tão vívida em sua memória.
Hoje, ao se lembrar daquele dia, seus olhos ficam molhados. Tenta pensar que isso não havia sido combinado e que o certo era ter um sorriso nos lábios. Tenta sorrir e acaba conseguindo, pois aqueles anos que passaram foram realmente maravilhosos e sorridentes. Hoje, ao andar pela rua, de vez em quando se depara com a lembrança daqueles dias. Uma praça, uma música ou um cheiro apenas, são motivos para recordar e perceber que alguns acontecimentos marcam irremediavelmente. Novas datas sugiram e novos planos vão se vislumbrando ao longo do caminho. Já fez viagens, já voou, conheceu outros bares, ouviu outros ritmos, comprou novos CDs. Tanta coisa aconteceu, mas não foi suficiente para que mais um 29 de agosto passasse despercebido.
Pensa em dividir sua angústia com as amigas que a acompanharam naquela noite. Afinal, todas sambaram, não é possível que só ela tenha aquela data como especial. Percebe que cada um tem a suas datas. E que aquela era dela, e de mais ninguém. Não há com quem dividir aquela recordação, e que para o resto do mundo aquele 29 de agosto foi igual ao dia 30 ou 31.
Estaria ela errada de marcar as datas assim, com tanta precisão? Acaba se lembrando da frase atribuída a Camões: “Navegar é preciso, viver não é preciso”. E ela, que mistura a precisão das datas, com a imprecisão dos acontecimentos da vida, acaba conseguindo estampar nos lábios um sorriso. Percebe que gosta de se lembrar daquele dia, como tantos outros que também foram importantes. Percebe que tem orgulho do que viveu e de se lembrar disso, mesmo que essa lembrança não seja compartilhada por mais ninguém. Respira fundo e deseja a si mesma: Feliz 29 de agosto! “Feliz ano velho”, felizes anos novos!
Essa lembrança é compartilhada com mais um: eu aqui!
ResponderExcluirPedro Henrique.
Fico feliz em saber!
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