Olha. Será que ela é moça? Será que ela é triste? Será que é o contrário? Será que é pintura o rosto da atriz? Se ela dança no sétimo céu? Se ela acredita que é outro país? E se ela só decora o seu papel? E seu eu pudesse entrar na sua vida?*
Conheci Beatriz há pouco tempo. Seu olhar perdido no horizonte me chamou a atenção. Perguntei se ela era triste. Ela disse que não, apenas casada. Mais tarde, saberia que ela não é do tipo que se abre facilmente para desconhecidos. Ela queria demonstrar que era uma mulher comum, porém, diante daquele sorriso aberto, daquele olhar que contava estórias, não havia como negar que comum, ela não era. E cada vez que via aquele olhar ficava mais curiosa para saber sua história.
Ela disse que nasceu numa tarde ensolarada de domingo. Considerando que seu aniversário é no inverno, suponho que essa tenha sido uma metáfora para que ela explicasse que era feliz por ter nascido naquele dia, que acreditava realmente que era fruto do amor dos pais e que a vida era bela. Contou que gosta de andar pelas ruas e observar: As pessoas, as cores, os contrastes. Se passatempo favorito é especular sobre a vida das pessoas desconhecidas que vê andando por aí. Ela acha que todo mundo pode ter uma boa história pra contar e que o rosto simples ou comum pode esconder experiências espetaculares. Eu mesmo, dia ela, eu mesmo tenho uma história maravilhosa. Uma história de amor. Afinal, não é só nos filmes que existem histórias de amor.
Então Beatriz me contou sobre João. Contou que o conhecera na mais improvável das noites que e o achou o mais improvável dos caras. Contou que ele se esforçou para se aproximar, pois ela estava receosa, reticente. O jeito de ele falar e insistir aos poucos a conquistava e juntos, como Eduardo e Mônica, eles fizeram muitas coisas: Viram os mais diferentes filmes, sentiram o vento no rosto e falaram de livros, de política, de viagens. Ela o confiou seus segredos. Ele abriu seu coração. O jeito entusiasmado com que ela via a vida fez com que ele a achasse mais colorida. Ela tinha sonhos e ele também. Mas às vezes, me confidencia Beatriz, os sonhos são como uma leve pena que vai voando para longe. E nós vamos atrás, porque é a nossa pena. Foi assim que João partiu. Atrás da sua pena. Beatriz o viu se afastar, torcendo para que ele agarrasse sua pena e fosse feliz. Ao mesmo tempo, seu coração estava chorando. Ela tentava secar as lágrimas, mas ele chorava de novo.
Foi assim que a conheci. Como olhar perdido no horizonte, buscando uma forma de continuar admirando a beleza da vida, as cores, os sons, os gostos. E, embora hoje seu olhar esteja triste, posso ver a esperança no fundo de seus olhos. Ela acredita que há motivos de sobra pra continuar com aquele sorriso inesquecível. “E as lágrimas do seu coração?”. Pergunto.” Vão passar”, ela diz,” vão passar e amanhã meu coração vai sorrir como os meus lábios”.
*Trecho de Beatriz, de Chico Buarque
E o amanhã chegará logo.
ResponderExcluirCarinhosamente,
João.