domingo, 29 de maio de 2011

O fim de um livro

Eu gosto bastante de ler. Quando preciso que o tempo passe, sempre procuro algo para ler, nem que sejam as configurações do meu celular. Com relação a livros, tenho algumas manias. Uma delas é sempre, sempre ler o final. Quando estou envolvida com a história, fico curiosa para saber no que vai dar e vou lá à última página e leio o último parágrafo. Na maioria das vezes, não entendo nada, pois a estória ainda dará muitas voltas para chegar àquele fim. É curioso. Saber o final não me desencoraja ler toda a história. Pelo contrário: Depois de saber como vai terminar, quero saber como isso vai acontecer. Mas enfim, é só uma mania. O que eu quero falar hoje é um pouco diferente.
Não me empolgo à primeira vista, por assim dizer, com um determinado livro. Normalmente, as primeiras cinquenta, cem páginas, são bem sofridas. Depois, fico viciada no livro. Não consigo parar de ler: No ônibus lotado, descendo as escadas do metrô, antes de dormir, em todos os intervalos possíveis. Vivo aquela história na minha imaginação, imagino os detalhes dos cenários, as emoções dos personagens, imagino paralelos com situações que já vivi. Aliás, deveria ser tão criativa na minha vida profissional como sou quando estou lendo um livro: Ficaria rica! Contudo, toda essa euforia dá lugar a uma angústia quando me aproximo do final da estória. Desta vez, não para saber como termina ou quais são as últimas palavras, mas quando eu já sei como chegou àquele final. Está realmente terminando. Terei que me despedir daquelas personagens por quem me apaixonei, com as quais me identifiquei, das quais tive raiva. Por isso, quando está chegando o final, diminuo o ritmo das leituras. Estava gostando tanto daquela estória, estava tudo ótimo, pra quê o livro tinha que terminar? Tudo bem, sempre há trechos difíceis, como em “1984”, cujo capítulo XVII, se não me engano, é imenso e sem diálogos. Mas até aquelas páginas me ensinaram alguma coisa!
O mesmo acontece quando preciso me despedir de alguém a quem amo. Claro que aí é mais difícil, pois não é possível reviver cada momento, a não ser na memória – os livros eu posso reler quando quiser. Desta forma, as despedidas das pessoas são sempre muito tristes para mim: Imensamente mais tristes que terminar de ler um livro. Uma tristeza do tamanho do mundo: Parece que machuca fisicamente. Com o tempo, a saudade faz essa tristeza aumentar, pois não há o que se possa fazer: Acabou mesmo. É difícil se acostumar com isso: Não ver aquele sorriso, não sentir aquele abraço, não ter aquele conselho. É claro que as recordações suavizam essa sensação, mas ainda assim, dói um bocado.

Contudo, é necessário ter em mente que a vida continua. Tanto no caso dos livros, como nas despedidas, de um jeito ou de outro. Os dias vão continuar amanhecendo, as contas vencendo, mais estórias continuarão ser escritas. Será possível me apaixonar por outros personagens, me envolver com outras estórias. Capitu foi embora, mas ainda existe Helena, Tereza, Tomas, Daniel, Sonia e tantos outros: Todos desejando se apresentar a mim, me contar seus dramas e alegrias. Aí inicio um novo livro. No princípio, não me empolgo muito como de costume, mas depois acabo por me interessar mais – com algumas exceções: Alguns livros, nunca consegui e acho que nunca vou, enfim, terminar!
Além do mais, se o livro fizer sucesso, pode ser que o autor se anime a escrever um novo volume, como “Pollyanna” e “Pollyanna Moça” de Eleonor H. Porter, ou os Karas do Pedro Bandeira, com suas cinco estórias eletrizantes – pelo menos na minha adolescência foram! Talvez na vida também seja possível escrever um novo volume. Talvez até melhor que o primeiro, como foi o caso de “Pollyanna Moça”.

sábado, 21 de maio de 2011

Sobre minha bicicleta e o medo de envelhecer


Nunca fui muito ligada á prática de atividade física. Desde criança olhava com desânimo as brincadeiras de pique e na escola sempre matava as aulas de educação física. Esportes com bola, então, me causavam verdadeiro pânico! Mas de uma coisa eu sempre gostei: Andar de bicicleta. Desde o início, quando minha mãe ou outra pessoa segurava trás pra eu não cair, ou quando perdia o freio nas ladeiras, ou quando ia de bicicleta passar em frente à casa dos paqueras. Era ótimo! A bicicleta sempre foi minha companheira. Então fiquei mais velha e passei um bom tempo sem pedalar, até que há pouco tempo atrás, me dando conta de que precisava fazer exercícios, pensei em um esporte que poderia me dar algum prazer. E me lembrei da minha paixão da infância: Comprei uma bicicleta vermelha linda! Desde então tenho pedalado. Não tanto quanto eu gostaria, é verdade, mas sempre que posso, estou lá, girando os pedais: Ora depressa, ora devagar, ora ouvindo música, ora contemplando a paisagem, ou os dois!
Domingo resolvi testar um novo caminho, uma estrada um tanto deserta que tem aqui perto de casa, cujo visual é bem bonito, mas o estado “deserto” me coibia um pouco. Foi bom ter ido porque aquele caminho, pois vi que não era tão perigoso assim e experimentei um passeio bem agradável. Nesse passeio, minha bicicleta me ensinou uma boa lição.
Eu estava acostumada com uma trilha bem plana, somente algumas subidas leves, tranquilas. Desta vez, pedalando toda feliz a som da trilha animada de “Dirty Dancing”, me espantei quando vi que estava subindo um longo morro! No começo, tudo bem, mas antes de chegar à metade, já estava com o coração na boca! Eu olhava a curva logo à frente e pensava: “Não vou desistir. Vou chegar até lá e ver o que há. Não vou descer dessa bicicleta e terminar empurrando-a. Não foi pra isso que vim aqui!” Num instante, achei que desmaiaria, de tanto que estava me esforçando. Aí parei. Encostei a bicicleta e me sentei no chão (coração batendo forte). Comecei a olhar em volta: Lá na frente, uma árvore com flores vermelhas, no céu, super azul, o sol brilhava e queimava minha pele. Haviam ainda mato e barulho das árvores. E a música continuava tocando. Meu coração ia se acalmando e eu resolvi que era hora de voltar para bike. A subida continuava forte, mas eu ia devagar, uma pedalada de cada vez. A cada pedalada, algo novo para ver, a cada pedalada, mais uma parte da ladeira ficava para trás. A ladeira enfim acabou e pude ver que à frente da curva havia sombra, belas árvores, descanso. Foi ainda melhor quando, na volta, pude descer aquele morro que havia subido, a toda velocidade! Como é maravilhosa a sensação do vento batendo no rosto! Como foi bom ter subido! Superei meus limites, vi coisas novas e ainda pude aproveitar a descida!
Então pensei: Preciso aprender a gostar do caminho. Afinal, existem subidas e descidas, sol escaldante e sombra de grandes árvores. O negócio é aproveitar tudo! Se cada fase da trilha for aproveitada, chegaremos às novas etapas mais fortes e preparados. É como na vida. Quantos já disseram: “Bom era quando eu era criança!” Ou: “Meu Deus! Estou chegando aos 30!” “Aos 50!”. Eu prefiro curtir meus vinte e poucos, como curti a adolescência e a infância. Quando for uma balzaquiana, vou aproveitar as delícias dessa idade. Colocar a experiência que 30 anos de vida me proporcionaram a serviço de uma vida com mais serenidade e sabedoria. Não quero reclamar das ladeiras à minha frente: Quero viver um dia de cada vez e aproveitar as belezas do caminho: as pessoas que eu conhecer, os lugares que visitar, os livros que ler. Não quero lamentar os anos passados e fantasiar que eram melhores que agora. Todos eles foram bem vividos, mas o hoje me oferece tantas oportunidades para ser e fazer tudo diferente! O amanhã também pode ter belas estórias me esperando! Especialmente se eu quiser e souber aproveitar.
Me orgulho da vida que levei até agora, dos amigos que fiz dos filmes que assisti, dos lugares que conheci. Mas quero muito mais! Quero ter novas experiências e ver o por do sol por um ângulo que nunca vi. Quero comer coisas que nunca comi. Se para isso, preciso acumular algumas rugas e pés de galinha, paciência. Serão marcas da vida maravilhosa que vivi. Quero escrever melhor a cada dia. Mas também quero ler. E por hoje, quero terminar de ler o livro ótimo que estou lendo e pedalar um pouco. Minha bicicleta e a ladeira “vencível” me esperam!

(desculpem: acho que escrevi demais...)

sábado, 14 de maio de 2011

Uma Certa Beatriz


Olha. Será que ela é moça? Será que ela é triste? Será que é o contrário? Será que é pintura o rosto da atriz? Se ela dança no sétimo céu? Se ela acredita que é outro país? E se ela só decora o seu papel? E seu eu pudesse entrar na sua vida?*

Conheci Beatriz há pouco tempo. Seu olhar perdido no horizonte me chamou a atenção. Perguntei se ela era triste. Ela disse que não, apenas casada. Mais tarde, saberia que ela não é do tipo que se abre facilmente para desconhecidos. Ela queria demonstrar que era uma mulher comum, porém, diante daquele sorriso aberto, daquele olhar que contava estórias, não havia como negar que comum, ela não era. E cada vez que via aquele olhar ficava mais curiosa para saber sua história.
Ela disse que nasceu numa tarde ensolarada de domingo. Considerando que seu aniversário é no inverno, suponho que essa tenha sido uma metáfora para que ela explicasse que era feliz por ter nascido naquele dia, que acreditava realmente que era fruto do amor dos pais e que a vida era bela. Contou que gosta de andar pelas ruas e observar: As pessoas, as cores, os contrastes. Se passatempo favorito é especular sobre a vida das pessoas desconhecidas que vê andando por aí. Ela acha que todo mundo pode ter uma boa história pra contar e que o rosto simples ou comum pode esconder experiências espetaculares. Eu mesmo, dia ela, eu mesmo tenho uma história maravilhosa. Uma história de amor. Afinal, não é só nos filmes que existem histórias de amor.
Então Beatriz me contou sobre João. Contou que o conhecera na mais improvável das noites que e o achou o mais improvável dos caras. Contou que ele se esforçou para se aproximar, pois ela estava receosa, reticente. O jeito de ele falar e insistir aos poucos a conquistava e juntos, como Eduardo e Mônica, eles fizeram muitas coisas: Viram os mais diferentes filmes, sentiram o vento no rosto e falaram de livros, de política, de viagens. Ela o confiou seus segredos. Ele abriu seu coração. O jeito entusiasmado com que ela via a vida fez com que ele a achasse mais colorida. Ela tinha sonhos e ele também. Mas às vezes, me confidencia Beatriz, os sonhos são como uma leve pena que vai voando para longe. E nós vamos atrás, porque é a nossa pena. Foi assim que João partiu. Atrás da sua pena. Beatriz o viu se afastar, torcendo para que ele agarrasse sua pena e fosse feliz. Ao mesmo tempo, seu coração estava chorando. Ela tentava secar as lágrimas, mas ele chorava de novo.
Foi assim que a conheci. Como olhar perdido no horizonte, buscando uma forma de continuar admirando a beleza da vida, as cores, os sons, os gostos. E, embora hoje seu olhar esteja triste, posso ver a esperança no fundo de seus olhos. Ela acredita que há motivos de sobra pra continuar com aquele sorriso inesquecível. “E as lágrimas do seu coração?”. Pergunto.” Vão passar”, ela diz,” vão passar e amanhã meu coração vai sorrir como os meus lábios”.

*Trecho de Beatriz, de Chico Buarque

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Quando vejo uma criança dormir


Eu gosto de crianças. Quando era mais nova e ainda não sabia “o preço das coisas” dizia que queria ter três filhos: Assim como a minha mãe. Aliás, almejava imitar em quase tudo a minha mãe, que as pessoas que conhecem, sabem que é fantástica. Hoje, diminuí o número de herdeiros que quero ter, mas ainda quero ser mãe. Esse desejo que acompanha a maioria das mulheres se manifesta em mim em diversas ocasiões, mas, sobretudo quando vejo uma criança dormir. E no início dessa noite, na correria da volta pra casa, no ônibus cheio e quente, pude experimentar mais uma vez esse prazer. E me lembrar porque é tão bom ver uma criança dormir.
Quando isso acontece, tenho esperança de que as coisas vão melhorar. Consigo enxergar a ternura através daquela cena tão sublime como é a cena de um bebê dormindo.  Acredito piamente que os homens serão menos egoístas e mais gentis. Que o bom senso prevalecerá e as pessoas se tratarão melhor. Acredito que a cura para mais doenças será descoberta. Acredito que mais pessoas serão curadas da depressão, do mau humor, da hipocrisia. Quando vejo um bebê dormindo dá vontade de sorrir para todos! De fazer uma coisa boa para o primeiro desconhecido que me aparecer. Questiono a legitimidade das minhas reclamações e a sinceridade das minhas atitudes. Um bebê dormindo me faz pensar; O que eu tenho feito da minha vida? O que tenho deixado a vida fazer de mim? É como se diante daquele ser tão frágil, tão precioso, eu conseguisse ver minha alma num espelho. E ter esperança de que tudo pode ser diferente!
Hoje eu havia pensando em escrever sobre a gentileza que está acabando e como as pessoas estão tão intolerantes e nervosas. Eu escreveria também sobre a desconfiança generalizada que vivemos e como é duro conviver com tanta gente desonesta e egoísta. Mas hoje eu vi um bebê dormindo. Ele estava tão tranquilo e indiferente a toda agitação ao seu redor! Sem saber meu nome, ou sequer da minha existência, ele me fez desistir de escrever sobre tudo isso, e pensar: É possível. Amanhã será um dia melhor. Precisa ser. Por ele.

Obrigada!!!


“Como seria o mundo se todas as pessoas começassem a gastar cinco minutos de seu tempo umas com as outras?”
Valéria Piassa Polizzi 

Vocês gastaram cinco minutos comigo e me deixaram tãooo contente! Obrigada a todos que leram comentaram por aqui ou por outros meios. Isso me deixa mais comprometida em tentar escrever o melhor que eu puder (que não é tanto assim... rs). Valeu!

sábado, 7 de maio de 2011

O Mar e a Vida

Eu adoro ver o mar. Não sei se isso se deve ao fato de ser mineira, nascida longe do mar e por isso mesmo alucinada com o litoral ou se é por ter nascido também romântica. O mar já inspirou canções e poesias. E essas me inspiram até hoje. Um pouco da minha admiração pela beleza da vida vem do meu olhar através da poesia, da arte. Não sou culta ou intelectual, não entendo de arte. Mas fico emocionada diante de uma escultura, ou ouvindo uma bela canção, ou quando vejo quão refinado é o artista-Deus ao esculpir, pintar e animar diferentes formas e cores nesse Universo. Essas coisas me emocionam e me levam a desejar viver mais e mais. Minha teoria é: Se me deixou emocionada, é uma boa arte!
Bom, voltando ao mar: Semana passada fiz uma viagem a Salvador para fazer uma prova e, claro, aproveitei para encontrar meu velho namorado. Ele estava bravo e agitado, pois chovia em Salvador. No último dia da viagem, ao final da tarde, corri pra molhar os meus pés pela última vez. As ondas agitadas pareciam me puxar como o olhar de Capitu puxava Betinho. Fiquei lá por uns instantes, como que hipnotizada por aquelas ondas. Observa ela se formando lá longe e se aproximando, cada vez mais proeminente. Eu, que tenho medo de me afogar, pensava: “Vou sair daqui porque aquela será forte demais e eu vou cair.” Mas era tarde, pois elas já haviam me prendido e eu não conseguia sair do lugar. O surpreendente pra mim é que quando a onda me atingia, batia forte, chegava a molhar toda a minha roupa, varria a areia sob meus pés, mas logo aquelas águas iam de volta para o mar, me deixando novamente com os pés firmes na areia. E já vinha outra onda e eu novamente pensava que não ia suportar. E novamente suportava.
Penso que a vida é da mesma forma. Sou apaixonada pela vida, como pelo mar. A vida, como o mar, tem dias de calmaria e céu claro. O sol brilha e as pessoas são felizes. A vida, como o mar, tem dias agitados, sombrios, fortes tempestades. Às vezes achamos que não conseguimos suportar alguns episódios que nos acontecem. A sensação é de que seremos levados com eles e morreremos. Contudo, assim como as águas voltam para o mar e a areia volta a ficar firme sob meus pés, tais episódios, surgem, deixam marcas, mas voltam para o mar  da vida.
A reação após tudo isso pode até ser de surpresa, ao ver que o chão ainda está sob os nossos pés. Estamos firmes e agora, mais fortes. É o que tenho experimentado.

Voltei. Tava com Saudade.

Hoje eu voltei. Voltei porque senti saudade. Saudade do tempo que eu podia chorar no seu ombro as minhas mágoas, filosofar minhas ide...