domingo, 6 de janeiro de 2013

O Milagre da Restituição



Quem já leu alguns textos nesse blog , ou sabe um pouco da minha vida, certamente sabe da minha paixão pelo Chico Buarque. Ele é a pessoa com quem eu costumo brincar que me casaria tão logo fosse feito o pedido. Imagino como deve ser delicioso conviver com alguém tão inteligente que entende tão bem as mulheres. Analisando friamente, é possível que ele nem tenha aquela famosa “pegada”, que as mulheres tanto demandam dos homens, mas, a julgar apenas pelo que ele compõe e canta, acrescentando ainda aquele sorriso e aqueles olhos verdes, é possível delinear, sim, a “pegada” de nosso muso (a palavra só existe no feminino, mas vá lá: É o Chico!). Digo nosso, porque sei que muitas das minhas amigas também nutrem por ele certa paixão platônica, como a minha. Pois bem, sonhadora que sou, penso que talvez um dia, andando pelo Calçadão de Ipanema, quem sabe ele não se depara comigo se apaixona, e temos um maravilhoso final feliz? Sou sonhadora, gente, apesar de tudo continuo sendo! Mas voltando à realidade, meu único contato possível com o Chico é através da música, ouvindo seus discos – já tentei ir aos shows, mas ainda não consegui. Então, ligo o som e aperto o play em “Chico”, seu mais recente trabalho. Assim fica mais fácil se inspirar pra escrever aqui.
Comprei esse CD há meses atrás, ansiosa para ouvir novas canções ou novas versões na voz do meu cantor preferido, mal podia esperar para chegar em casa. Chegando, o que acontece é algo parecido com isso: ligo o som. Começa a tocar “Querido diário”. Minha mãe me chama para contar não-sei-o-quê sobre não-sei-quem. “Tá bom, mãe...” “Mas... blá blá...”. De longe, vejo o display marcar a quarta música. Volto para o quarto. Toca o telefone corporativo. “Ai.. vou ter que atender...”. Pronto. Música oito (o CD tem 10). Uma amiga chama desesperada no WhtasApp. Fim do CD. Por que CDs bons vem com tão poucas músicas? Tive que voltar tudo, ouvir e me apaixonar de novo.
Agora pergunto: E quando isso acontece com a vida da gente? Quando o melhor tempo da vida passa e você não se dá conta de que está usando do jeito errado? Que está gastando seu tempo, sua energia, as poesias mais belas, a inspiração, na história errada? De repente você para e percebe que a vida estava correndo do seu lado, mas você estava olhando para o outro lado.  O que tento dizer aqui é do tempo. Daquele desejo de voltar na máquina do tempo, assim como voltei o CD, e fazer tudo diferente. É. Na vida não é tão fácil assim. Quando olhei, pronto. Passou. O sentimento advindo dessa constatação ainda não posso descrever. Seria “vazio” um sentimento? Arrependimento? Talvez, mas não só.
O alento, nesse caso, só poderia vir daquele que não é governado pelo tempo. Que embora conheça o fim no início, nos deixa livres para decidir conforme nos aprouver. E ainda está de braços abertos para nos amparar, quando, arrependidos, nos voltamos para ele. Foi o que aconteceu comigo. Encontrei em Deus, sim, um consolo para aquela inquietação, aquele vazio. Lembrei de uma canção, inspirada no livro de Joel 1 e 2,  que diz:
 “Dos planos que foram embora
 Do sonho que se perdeu
O que era festa e agora
É luto do que já morreu...
... E o tempo que roubado foi
Não poderá se comparar
A tudo aquilo que o Senhor
Tem preparado ao que o clamar...”

Para o CD que passou e eu não ouvi, bastou apertar o “play” novamente. Para a vida que passou, precisei pedir um milagre. O milagre da restituição. Agradeço porque o tempo passado não me fez dura o suficiente para deixar de acreditar em milagres. Pois foi a partir de um que posso dizer que hoje volto a sonhar, como há anos atrás, com o amor, com a vida, com a beleza e a poesia. Volto a olhar o amanhã com esperança e espero continuar ao lado dos amigos queridos e verdadeiros. Porque a gente pode até querer mudar algumas coisas na vida, mas jamais desejará afastar os amigos conquistados ao longo dela. Pra esses, sim, vale a pena querer voltar no tempo e viver tudo de novo.
Um 2013 de recomeço pra quem acredita!
(O CD, a propósito, já acabou faz tempo. Coloquei “Carioca”, de 2007, maravilhoso também. Segue abaixo minha favorita do tal CD, "Chico", de 2011: Deliciem:se!)

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