Tem uma hora na vida que todo mundo para, pensa e se pergunta, tal como em João e Maria, “o que é que a vida vai fazer de mim?”¹ Todo mundo tem um ideal. E esse ideal depende de seu dono. Não é possível dizer o que é mais ou menos nobre ou ousado. Fato é que após se fazer essa pergunta, algo diferente acontece. Pode-se perceber que se está longe daquele ideal, que é preciso dar uns passos atrás, ou à frente na busca daquilo que, no íntimo, sabe-se ser realmente importante.
Uma estória conhecida diz a respeito de uma menina que um dia, incentivada pela mãe, foi sozinha pela floresta levar doces para a avó. Ao se ver sozinha naquela floresta, talvez ela tenha se feito essa pergunta. E foi quando percebeu que a decisão era dela, e quão assustador pode ser perceber que se é o único responsável por uma vida inteira! Seus fracassos e sucessos, suas angústias e alegrias. O mundo ao redor, a floresta, nessa hora podem aparentar mais escuros que realmente são. Voltar atrás é possível, voltar para a casa da mãe. É possível também ir para frente, mas são tantos caminhos! Nessa hora, apareceu alguém para dar um conselho, e a inocente menina, acredita que aquele conselho não poderia ser melhor. Não se pode culpá-la, afinal, é só vivendo que se aprende a viver, ou, como diz o poeta, “amar se aprende amando”4. Como a menina saberia que ficaria mais perdida que já estava? Que as consequências daquela decisão reverberariam por um bom tempo? Agora ela estava perdida na noite da floresta, ou, se não estava perdida, pelo menos demoraria mais tempo para chegar ao seu destino, do que se seguisse o plano inicial. No entanto, não aprenderia lições que só aquele caminho proporcionaria.
Tal como em “Ovelha Negra”², da Rita Lee, uma das minhas canções preferidas. “...É a canção de quem foi “convidado” a sair de casa e teve que enfrentar o mundo hostil à sua frente para poder concretizar seus sonhos e defender suas convicções”³ (Rolling Stone, 2009). Essa canção poderia ser a canção de Chapeuzinho Vermelho. Diz a reportagem que esse foi o primeiro sucesso solo da Rita Lee. Não poderia vir mais a calhar: Afinal, ela estava “perdida, procurando se encontrar” após a saída dos Mutantes e acabou se tornando a Rita Lee, que tanto admiro. Não se sabe quão duro foi o caminho até ela “se encontrar”. Na verdade nem se sabe se ela já se encontrou. O caminho de cada um é solitário. E tem peculiaridades que só o dono daquele caminho sabe dizer.
Se Chapeuzinho Vermelho existisse e conhecesse a música, a escolheria para si. Como eu escolhi. Olho a floresta ao meu redor e às vezes penso que estou perdida. Por outro lado, já sei de coisas que mais ninguém sabe. O caminho que ficou para trás me mostrou coisas que só no final, com o distanciamento necessário, poderei dizer o que foram e o que significaram. Um dia e um passo de cada vez, ora devagar, ora correndo, procuro seguir para o alvo. Olhar para o lado, para o caminho alheio, é uma tentação a ser evitada. O mundo é grande, assim como a floresta de Chapeuzinho. E, enquanto estou aqui a refletir sobre essas coisas, bilhões de “chapeuzinhos” estão a procura da casa da avó, com a certeza de que não existe caminho melhor.
1 – Chico Buarque, João e Maria - 1990 (ao vivo)
2 – Rita Lee, Ovelha Negra – 1975
3 – Rolling Stone, Outubro de 2008
4 - Carlos Drummnd de Andrade, 2001, editora Record
5 - Imagem Retirada de http://colaemmim.com/2011/01/14/a-garota-da-capa-vermelha/

Aline,
ResponderExcluirSem querer achei o seu BLog e já virei fã...
Seus textos são perfeitos, me identifiquei em vários deles, principalmente neste.
Abraços
Aline Marques Lima
Obrigada, Aline! Fico lisonjeada de saber que você gosta do que eu escrevo, pois o faço sem nenhuma pretensão... Obrigada!
ResponderExcluirAbraços,
Aline