Começava mais um semestre naquela famosa faculdade. Há tempos o burburinho dos corredores, as dissertações, e as indicações de livros e livros tinha deixado de ser novidade para mim. Afinal, além de trabalhar a anos na mesma faculdade, eu também já estava terminando o meu curso universitário. Era o sétimo período curso de Turismo. A professora, uma baixinha com cara de sabida, entrava na sala para dar início a mais uma disciplina: Turismo Cultural. Ela não conhecia a turma antes, como era o caso da maioria dos professores naquele semestre. E aí iniciam as apresentações de praxe. Nome, idade, onde trabalha, por que está fazendo esse curso. Enquanto as pessoas iam respondendo, eu me dividia entre ouvir o que diziam e pensar no que responderia: Ai meu Deus! Essa pergunta de novo! Sempre parece que é a primeira vez... Isso nunca vai passar? [Eu trabalho numa rede de hotéis...], [trabalho com call center]. Ai ai ai... tá chegando... [Trabalho numa empresa de eventos...] Ai que frio na Barriga. [Estou procurando estágio...] Talvez esteja na hora de reformular minha resposta... só essa professora não sabe porque estou aqui estudando. [E você?] Hã? [Você, de óculos vermelho...] Ah sim. Bem, meu nome é Aline, tenho 23 anos e não trabalho na área ainda. Escolhi esse curso porque acredito que através dele posso contribuir para um mundo melhor. Sempre que falava isso, meu rosto queimava como fogo. E eu podia ver na cara de meus interlocutores um olhar meio cúmplice que eu nunca soube bem se era admiração ou pena, por eu ser tão romântica e ingênua com a minha profissão.
Uma revelação talvez lhes aumente ou a pena ou a admiração: Essa vontade de construir um mundo melhor não se manifesta em mim apenas na escolha do curso superior. Ela se manifesta em todas as áreas da minha vida. Esse desejo me acompanha em cada decisão, seja quando guardo o papel de bala dentro da bolsa em vez de jogar na rua, seja quando estou comprando um CD. Em meio a rumores de guerras, crises econômicas, desilusões amorosas e catástrofes ambientais, sempre tive uma visão otimista para tudo. Se vejo problemas? Oh sim, claro! Quem não vê? Apesar de ser uma leitora assídua das fofocas de celebridades, não sou uma alienada! Também leio sobre economia, política, ecologia, etc. Além disso, na minha vida pessoal, já enfrentei dramas bem piores que os das novelas. Mas até agora, nada disso me fez desacreditar. Pelo contrário, quando tudo beira á loucura e ao caos, preciso acreditar que as coisas vão melhorar. E que tenho um papel importante nisso.
Às vezes, fico deprimida e penso que essa coisa de buscar um mundo melhor não está com nada. Reações ingratas de pessoas importantes para mim, falta de grana, rotina: Essas variáveis, e mais algumas, já me desanimaram muitas vezes. Outro dia, na verdade, já faz alguns meses, uma pessoa me falou algo que tento me lembrar sempre que bate esse desânimo. Não me lembro das palavras certas, mas essa pessoa me disse que talvez eu não tenha mudado o mundo, mas que eu tinha feito uma diferença enorme na vida dela e na vida de muitas outras pessoas que talvez eu nem imaginava. Que eu não devia mudar esse meu jeito. Claro, caí em prantos – “grande novidade!” dirá quem me conhece.
A despeito de tanta coisa ruim que acontece comigo, com quem eu amo, com quem eu nem conheço, procuro seguir a vida olhando o que há de mais belo, sorrindo quando vejo o céu azul ao atravessar a Praça de Estação de manhã, ou quando vejo esse mesmo céu todo estrelado à noite. Aconselhando minhas amigas a investirem naquela paixão, ou botando fé no novo projeto de turismo da prefeitura. Sendo sincera comigo e com os outros, sendo fiel aos meus princípios e aos meus sentimentos. Esse é meu jeito de buscar um mundo melhor. Oque eu vou conseguir com isso? Não sei se vocês acharão o mundo melhor por causa das minhas atitudes. Mas o meu mundo, esse sim, com certeza, será um lugar melhor para viver.
(continua no próximo post)
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