Hoje eu voltei. Voltei porque senti saudade. Saudade do
tempo que eu podia chorar no seu ombro as minhas mágoas, filosofar minhas
ideias loucas e ouvir seu consentimento silencioso. Senti saudade de quando eu
podia abrir a porta, ficar descalça, sentar no chão e ser eu: sem compromisso de
mostrar o que sei, o que não sei, os lugares que já conheci, os livros que já
li. Simplesmente rir despretensiosamente das coisas bobas do dia, sem ter que
mostrar o quão culta eu sou, ou deveria, ou não, sem precisar falar de política
ou não falar, sem pensar no aquecimento global ou na paz mundial, nem mesmo no
mapa da fome.
Senti saudade de você e por isso eu vim: pra te dizer que só
você entende minhas loucuras, me escuta sem julgar, me deixa respirar. Quando
estou aqui, é como se estivesse boiando de costas numa imensa piscina, num dia
de sol. Quando estou aqui sou leve, porque entrego para você todo aquele peso
ruim do dia a dia.
Você me pergunta o que tenho feito, porque sumi. Eu estava
por aí sendo aluna, funcionária, estava amando, ouvindo, curtindo música boa, bebendo,
sofrendo, pagando contas, admirando o céu. Já disse pra você o quando gosto de
admirar o céu? E o contraste das folhas com o céu azul num dia de outono? Lindo
demais. Sei que no meio de tanta coisa, tanto papel pra desempenhar, bem que me
peguei olhando o céu, de dia, de noite, mais de uma vez. Ainda bem. Aquilo de
dizer que o céu pode nos salvar é mais que uma metáfora. Olhar o céu de vez em
quando pode devolver aquele quê de poesia que a gente vai perdendo no dia a
dia.
Mas então é isso: voltei pra dizer que senti sua falta,
porque quando estou aqui, sou eu e mais ninguém. Digo o que dá na telha pra
você. É enraçado que você pode contar pra todo mundo, se quiser, mas eu não
ligo, penso em como é difícil ser a gente às vezes e que você contar pra todo
mundo pode até facilitar o processo. Vai que alguém goste da “Eu”, que você
está contando? Seria legal. Agora já vou indo pra mais uma tarefa. Espero não
sumir por tanto tempo e se sumir, sei que na volta você ainda vai me receber de
portas, ou algoritmos, ou pixels, abertos, por isso que eu adoro estar aqui com
você, meu blog!
