sábado, 15 de junho de 2013

Minha casa é o melhor lugar do mundo...



Meu pai é calado, mas sempre consigo perceber sua presença em casa. Ele dá comida aos cachorros, escuta música. Conta para minha mãe as piadas que lê no jornal. Ele compra cebolinhas em conserva desde que descobriu que eu gosto, assim como compra frango pra agradar ao Wendell e pão de queijo para minha mãe. Ele sempre me pede pra pagar as contas pra ele. Sempre em cima da hora. Ele assiste calado aos jogos de futebol: se o time dele ganhar ou perder, não importa: meu pai fica caladinho. Meu pai tosse muito de manhã e eu escuto do meu quarto. Ele toma remédio todo dia antes de ir dormir. Eu odeio, mas ele fuma escondido. Eu amo chegar em casa e ver ele no sofá assistindo TV. Eu amo ouvir ele contando piadas. Sinto toda ternura do mundo olhando para meu pai.
Minha mãe faz qualquer comida ficar gostosa, até com cebola. Ela sempre entra no meu quarto e diz que tenho que abrir a janela, pra renovar o ar. Minha mãe sempre me interrompe quando estou assistindo filme e não entendo porque isso me irrita. Eu quase não a vejo durante semana. Quando chego, ela já foi dormir, saio antes de ela se levantar. Mas sempre tem um bilhetinho, dizendo que tem salada na geladeira, que minha marmita é a de tampa verde, que me ama. Minha mãe sempre implica com a minha roupa, mas sempre fala bem de mim pras amigas dela. Minha mãe sempre me fala a coisa certa, na hora certa. Quando eu to chorando, ela sabe o porquê, mesmo que eu não fale nada. Minha mãe mima mais o Frejat (o gato) do que a mim. Minha mãe fica cantarolando as músicas que eu estou ouvindo. Minha mãe conversa horas no telefone, sempre dando conselho pra todo mundo. Minha mãe fica irritada quando eu digo que ela prefere o Chris. Eu sei que ela me ama igual – e ao Wendell também, mas acho divertido deixar ela nervosa. Minha mãe é a mulher da minha vida.
O Wendell fica só no quarto dele, conversando com mil amigos na Internet. Acho que ele é popular e querido. Não é para menos, afinal, sempre soube que ele era um homem bom. Às vezes, quero dormir e ele está conversando na Internet e eu não consigo. Ele sai do quarto só pra fazer comida. Sempre um prato diferente. Quase sempre fica bom. Digo quase porque ele não gosta muito de sal, como eu. O Wendell é romântico como a irmã. E tem fases de músicas: Milton, Clara Nunes, Legião. No quarto dele tem mais livro que no meu. E pensar que eu dava dicas de livros pra ele. Ele me odeia por não gostar dos cachorros, mas sempre me ajuda quando preciso. Ele também sabe quando tô triste e tem um jeito pra me consolar. Ele escuta minhas confissões amorosas (ou não!) e conta pra mãe. Eu nunca aprendo. Ele sempre está no banheiro quando quero tomar banho. Ele sempre coloca cebola na comida quando não quer dividir comigo. Ele sempre leva as coisas que eu esqueço até o ponto de ônibus. Quando já me deitei, chamo-o pra apagar a luz pra mim. Ele morre de raiva disso, mas sempre faz. Ele é minha versão masculina, mais nova. Me vejo olhando pra ele.
O Chris tem um nome difícil. Pra mim, ele é só Chris, meu companheiro de infância, de histórias alegres e tristes. O Chris, desde o casamento, é uma ausência presente. Quando tem a comida que ele gosta, quando tem que consertar as coisas, quando passa o Cruzeiro na televisão, nos álbuns de nós dois pequenininhos. O Chris é uma ausência que dói. O Chris é uma alegria quando vem em casa.
Agora, prestes a sair daqui, não consigo imaginar como fazer sem eles.

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