sábado, 29 de junho de 2013

Me perguntaram por que não vou aos protestos...





Meu pai me bateu três vezes quando eu era criança. Parece pouco, mas se comparado aos meus irmãos, que nunca apanharam dele, talvez seja possível ter uma ideia de como eu sempre fui atrevida e brigona. A ocasião que mais ilustra isso é quando eu, por volta dos três anos, chutei meu irmão de uns quase dois para fora do sofá. Afinal, eu queria defender meu espaço! Meu pai me deu um tapa e eu não fugi, como fiz a vida inteira, aliás. No colégio, era sempre aquela que fazia pergunta pra criar polêmica. Em casa, idem. Sempre questionei tudo.
Uma pessoa próxima disse que não entende porque eu não estou participando desses recentes protestos que acontecem no Brasil. Imagino que a surpresa vem do fato da pessoa em questão saber o quanto eu gosto de política, de defender direitos meus e dos meus, o quando eu odeio a injustiça. Ora, a história de chutar meu irmão pra fora do sofá quando era tão pequena, me faz pensar que sempre fui assim. A própria vida tratou de reforçar essa característica. Eu poderia ir pra rua empunhando um cartaz pedindo melhores condições de saúde, pois já tive que madrugar para conseguir marcar uma consulta. Poderia também pedir por melhores escolas e professores, porque já passei por inúmeras greves, porque  já sofri com professores incompetentes, que davam aula pra complementar o orçamento, mas não amavam o que faziam. Condições de transporte, então? Quantas vezes já mofei duas, três horas no ponto indo pra Betim, quantas vezes tive que dormir na casa dos outros porque não tinha mais ônibus, quantas vezes cheguei atrasada no trabalho, na faculdade, por problemas no ônibus ou no metrô? Quantas vezes fui vítima de preconceito por ser pobre? Por morar na periferia? Portanto, se fosse às manifestações, não falaria de coisas das quais ouvi falar. Falaria com conhecimento de causa.
 Nunca me filiei a nenhum partido, mas sempre gostei da esquerda e, embora tenha uma grande lista de reclamações a fazer da administração do PT de 2002 para cá, sou muito mais orgulhosa do bem que esse governo tem feito ao povo que mais precisa, ao povo do qual eu faço parte. Mas não é por isso que não tenho participado.
Tenho visto bastante a expressão “não me representa”, ostentada com orgulho por muitos “ativistas”. E o motivo pelo qual me abstenho até aqui de participar é que não me sinto representada pelo povo que vai às ruas. Porque, vejam bem:
- Eu não acho que a Dilma esteja F*#$n%* o Brasil, como escutei outro dia na Afonso Pena
- Eu não sou contra a copa. Nunca fui. Sou Turismóloga e entendo que um evento dessa visibilidade vai trazer grandes benefícios para meu país. Acho inclusive incoerentes esses protestos contra a copa, porque quando o Brasil foi anunciado como país sede, milhões e milhões de brasileiros comemoraram o fato.
- Sou totalmente contra a corrupção. Por isso, aliás, nunca tive carteira de estudante falsa, nunca deixei transferirem pontos para minha carteira, nunca lesei ninguém. Entretanto, tenho excelente memória. E sei que os líderes do movimento de agora fazem parte de uma direita que há anos vem extraindo toda riqueza desse país, deixado os pobres na penúria, desviando verbas, superfaturando obras, enriquecendo suas contas em paraísos fiscais, privatizando a preço de banana nossas maiores riquezas. Não me sinto a vontade para me juntar a eles.
- Amo a democracia, amo debater ideias, e tenho visto como algumas minorias e grupos como sindicatos e partidos, por exemplo, tem sido hostilizados nesses movimentos.
- Sou contra a violência. Os manifestantes, ao mesmo tempo que pedem à polícia para não ser violenta, batem nos integrantes de partidos, provocam a polícia, destroem o patrimônio público e privado. Outro dia, numa página de um desses inúmeros eventos que são marcados no Facebook, um grupo pedia a polícia para se preparar para um ataque de bolas de gude. Não foi a Globo que falou. Foram eles mesmos. Não posso compactuar com isso.
Esses protestos parecem um emaranhado de tudo que eu disse acima e mais um pouco. Me sinto confusa e, sobretudo, não me identifico com esses manifestantes.  Não gosto de preconceitos e penso que não se combate o preconceito com mais preconceito. Não me sinto, enfim, representada por esses manifestantes.
Tenho amigos que estão participando e reconheço neles uma vontade genuína de mudar o país. Talvez, por essas pessoas, eu mude de ideia e participe. Aliás, mudar de ideia é tudo de bom! Mas diante de tudo o que acabei de dizer, penso que talvez seja incoerência da minha parte participar. Se o fizer, será num movimento particular, com minhas próprias demandas, com minhas próprias bandeiras, com a minha luta. Não sei se seria reconhecida como parte do grupo de manifestantes, mas talvez, como brasileira, que amo ser.
Só gostaria de registrar que estou muito feliz que a política tenha tomado conta das discussões nas mesas de bar, nas academias, na Internet, nos pontos de ônibus! Orgulhosa dos brasileiros!

sábado, 15 de junho de 2013

Minha casa é o melhor lugar do mundo...



Meu pai é calado, mas sempre consigo perceber sua presença em casa. Ele dá comida aos cachorros, escuta música. Conta para minha mãe as piadas que lê no jornal. Ele compra cebolinhas em conserva desde que descobriu que eu gosto, assim como compra frango pra agradar ao Wendell e pão de queijo para minha mãe. Ele sempre me pede pra pagar as contas pra ele. Sempre em cima da hora. Ele assiste calado aos jogos de futebol: se o time dele ganhar ou perder, não importa: meu pai fica caladinho. Meu pai tosse muito de manhã e eu escuto do meu quarto. Ele toma remédio todo dia antes de ir dormir. Eu odeio, mas ele fuma escondido. Eu amo chegar em casa e ver ele no sofá assistindo TV. Eu amo ouvir ele contando piadas. Sinto toda ternura do mundo olhando para meu pai.
Minha mãe faz qualquer comida ficar gostosa, até com cebola. Ela sempre entra no meu quarto e diz que tenho que abrir a janela, pra renovar o ar. Minha mãe sempre me interrompe quando estou assistindo filme e não entendo porque isso me irrita. Eu quase não a vejo durante semana. Quando chego, ela já foi dormir, saio antes de ela se levantar. Mas sempre tem um bilhetinho, dizendo que tem salada na geladeira, que minha marmita é a de tampa verde, que me ama. Minha mãe sempre implica com a minha roupa, mas sempre fala bem de mim pras amigas dela. Minha mãe sempre me fala a coisa certa, na hora certa. Quando eu to chorando, ela sabe o porquê, mesmo que eu não fale nada. Minha mãe mima mais o Frejat (o gato) do que a mim. Minha mãe fica cantarolando as músicas que eu estou ouvindo. Minha mãe conversa horas no telefone, sempre dando conselho pra todo mundo. Minha mãe fica irritada quando eu digo que ela prefere o Chris. Eu sei que ela me ama igual – e ao Wendell também, mas acho divertido deixar ela nervosa. Minha mãe é a mulher da minha vida.
O Wendell fica só no quarto dele, conversando com mil amigos na Internet. Acho que ele é popular e querido. Não é para menos, afinal, sempre soube que ele era um homem bom. Às vezes, quero dormir e ele está conversando na Internet e eu não consigo. Ele sai do quarto só pra fazer comida. Sempre um prato diferente. Quase sempre fica bom. Digo quase porque ele não gosta muito de sal, como eu. O Wendell é romântico como a irmã. E tem fases de músicas: Milton, Clara Nunes, Legião. No quarto dele tem mais livro que no meu. E pensar que eu dava dicas de livros pra ele. Ele me odeia por não gostar dos cachorros, mas sempre me ajuda quando preciso. Ele também sabe quando tô triste e tem um jeito pra me consolar. Ele escuta minhas confissões amorosas (ou não!) e conta pra mãe. Eu nunca aprendo. Ele sempre está no banheiro quando quero tomar banho. Ele sempre coloca cebola na comida quando não quer dividir comigo. Ele sempre leva as coisas que eu esqueço até o ponto de ônibus. Quando já me deitei, chamo-o pra apagar a luz pra mim. Ele morre de raiva disso, mas sempre faz. Ele é minha versão masculina, mais nova. Me vejo olhando pra ele.
O Chris tem um nome difícil. Pra mim, ele é só Chris, meu companheiro de infância, de histórias alegres e tristes. O Chris, desde o casamento, é uma ausência presente. Quando tem a comida que ele gosta, quando tem que consertar as coisas, quando passa o Cruzeiro na televisão, nos álbuns de nós dois pequenininhos. O Chris é uma ausência que dói. O Chris é uma alegria quando vem em casa.
Agora, prestes a sair daqui, não consigo imaginar como fazer sem eles.

Voltei. Tava com Saudade.

Hoje eu voltei. Voltei porque senti saudade. Saudade do tempo que eu podia chorar no seu ombro as minhas mágoas, filosofar minhas ide...