domingo, 27 de novembro de 2011

Chapeuzinho Vermelho, Rita Lee e Eu

Tem uma hora na vida que todo mundo para, pensa e se pergunta, tal como em João e Maria, “o que é que a vida vai fazer de mim?”¹ Todo mundo tem um ideal. E esse ideal depende de seu dono. Não é possível dizer o que é mais ou menos nobre ou ousado. Fato é que após se fazer essa pergunta, algo diferente acontece. Pode-se perceber que se está longe daquele ideal, que é preciso dar uns passos atrás, ou à frente na busca daquilo que, no íntimo, sabe-se ser realmente importante.

Uma estória conhecida diz a respeito de uma menina que um dia, incentivada pela mãe, foi sozinha pela floresta levar doces para a avó. Ao se ver sozinha naquela floresta, talvez ela tenha se feito essa pergunta. E foi quando percebeu que a decisão era dela, e quão assustador pode ser perceber que se é o único responsável por uma vida inteira! Seus fracassos e sucessos, suas angústias e alegrias. O mundo ao redor, a floresta, nessa hora podem aparentar mais escuros que realmente são. Voltar atrás é possível, voltar para a casa da mãe. É possível também ir para frente, mas são tantos caminhos! Nessa hora, apareceu alguém para dar um conselho, e a inocente menina, acredita que aquele conselho não poderia ser melhor. Não se pode culpá-la, afinal, é só vivendo que se aprende a viver, ou, como diz o poeta, “amar se aprende amando”4. Como a menina saberia que ficaria mais perdida que já estava? Que as consequências daquela decisão reverberariam por um bom tempo? Agora ela estava perdida na noite da floresta, ou, se não estava perdida, pelo menos demoraria mais tempo para chegar ao seu destino, do que se seguisse o plano inicial. No entanto, não aprenderia lições que só aquele caminho proporcionaria.
Tal como em “Ovelha Negra”², da Rita Lee, uma das minhas canções preferidas. “...É a canção de quem foi “convidado” a sair de casa e teve que enfrentar o mundo hostil à sua frente para poder concretizar seus sonhos e defender suas convicções”³ (Rolling Stone, 2009). Essa canção poderia ser a canção de Chapeuzinho Vermelho. Diz a reportagem que esse foi o primeiro sucesso solo da Rita Lee. Não poderia vir mais a calhar: Afinal, ela estava “perdida, procurando se encontrar” após a saída dos Mutantes e acabou se tornando a Rita Lee, que tanto admiro. Não se sabe quão duro foi o caminho até ela “se encontrar”. Na verdade nem se sabe se ela já se encontrou. O caminho de cada um é solitário. E tem peculiaridades que só o dono daquele caminho sabe dizer.
Se Chapeuzinho Vermelho existisse e conhecesse a música, a escolheria para si. Como eu escolhi. Olho a floresta ao meu redor e às vezes penso que estou perdida. Por outro lado, já sei de coisas que mais ninguém sabe. O caminho que ficou para trás me mostrou coisas que só no final, com o distanciamento necessário, poderei dizer o que foram e o que significaram. Um dia e um passo de cada vez, ora devagar, ora correndo, procuro seguir para o alvo. Olhar para o lado, para o caminho alheio, é uma tentação a ser evitada. O mundo é grande, assim como a floresta de Chapeuzinho. E, enquanto estou aqui a refletir sobre essas coisas, bilhões de “chapeuzinhos” estão a procura da casa da avó, com a certeza de que não existe caminho melhor.

 

1 – Chico Buarque, João e Maria - 1990 (ao vivo)
2 – Rita Lee, Ovelha Negra – 1975
3 – Rolling Stone, Outubro de 2008
4  - Carlos Drummnd de Andrade, 2001, editora Record
5 - Imagem Retirada de http://colaemmim.com/2011/01/14/a-garota-da-capa-vermelha/


sábado, 12 de novembro de 2011

Gavetas, caixas e algo mais

 Hoje é dia de guardar as roupas no armário. Tal tarefa não é nem um pouco penosa para mim: Não sei por que, adquiri o hábito de nunca deixar meu armário bagunçado. Sendo assim é só chegar com as roupas que acabei de passar e colocar cada uma no seu lugar. As blusas de malha coloridas possuem sua gaveta, bem como as pretas ou brancas e a lingerie, não esquecendo as roupas de ginástica e os pijamas. Os cabides são organizados num “tom sobre tom” que às vezes chego a pensar que tenho TOC! Sou uma alucinada com gavetas, caixas e repartições. Acredito que já dei algum tipo de caixa para quase todas as minhas amigas. Adoro organizar as coisas. Os CDs, na estante em ordem alfabética e os livros em ordem de tamanho, “para ficar mais bonito”, costumo dizer para mim mesma. 

Alguém que não conheça muito bem esse meu mundo particular, pode vir a acreditar que é tudo essa perfeição. Entretanto, ao se adentrar um pouco mais nesse mundo, pode-se perceber que há meses venho adiando a arrumação “caixa de contas”, que é como chamo a caixinha que guarda a caderneta de anotações, cheques e cupons fiscais. Sei que vou gastar horas com aquela tarefa e que não será nada fácil mensurar todos os gastos. Entender e controlar minha vida financeira. Não sei se já li em algum lugar, ou se desenvolvi a teoria sozinha: Penso que todo mundo tem seu lugar de caos, de desordem, por mais organizado que seja. Pode ser uma gaveta, um cômodo da casa, uma área de sua vida. No meu caso, é a caixa de contas. Olho para ela, para os boletos, comprovante de pagamento e faturas que vão se acumulando, e adio a arrumação para o próximo final de semana. No mais, tudo organizado: Por espécie, cor e tamanho. Na vida também poderia ser assim.
São tantos aspectos que compõem o que chamamos que vida: tem a fé, a família, a amor, a profissão, a cultura, os sonhos. Seria bom se a vida fosse um grande armário cheio de gavetas. Assim, poderíamos organizar tudo, separar por cores, bem como privilegiar as partes que mais gostássemos, deixando nas gavetas mais acessíveis, bem como deixar certos assuntos guardados em gavetas bem afastadas, para que só fôssemos mexer quando fosse para arrumar, ou para jogar fora, como se faz com os comprovantes de pagamento antigos.
É. A vida e mais complexa que isso. Entretanto, hoje, às voltas com vestidos, calças jeans e camisetas, decidi agir como se fosse assim mesmo um armário: Vou cuidar da minha fé, da minha profissão, da minha família, do meu sonho de conhecer Londres. Outras coisas vou guardar numa gaveta bem alta do meu coração. E só quando eu estiver inspirada, quando eu souber o que fazer com aquilo, volto a mexer nessa gaveta. Daí, minha vida vai ser mais organizada, assim como meu armário.

Além disso, ao cuidar das outras gavetas, posso aprender coisas novas que me ajudarão depois, quando enfim encarar aquela que deixei de lado por um tempo. Mexendo em outras gavetas, posso de repente perceber que superestimei a importância daquela outra, ou que ela é mais importante que eu pensava, e não consigo viver sem mexer ali. De uma forma ou de outra, há inúmeros assuntos, e inúmeras gavetas para cuidar. Não é possível ficar só andando em círculos em volta de apenas uma, ainda mais quando não se sabe o que fazer com seu conteúdo.

Voltei. Tava com Saudade.

Hoje eu voltei. Voltei porque senti saudade. Saudade do tempo que eu podia chorar no seu ombro as minhas mágoas, filosofar minhas ide...