domingo, 2 de fevereiro de 2014

“Pés no chão, cabeça nas nuvens, olhos no Horizonte”


Noite de Domingo. Embora domingos fossem, normalmente, improdutivos, estava particularmente satisfeita àquela noite.  Havia realizado tudo o que planejara: os estudos, o tempo com a família, as unhas vermelhas, o ócio. Tudo havia ocorrido da maneira que a deixara orgulhosa. Terminara as unhas aquele instante, quando tocava A Long and Winding Road*, uma de suas preferidas, da sua banda preferida. Precisava esperar o esmalte secar. Foi a até a janela. A janela era o que mais gostava naquela apartamento: Grande, ocupando toda uma parede, dava para parte da Serra que cercava parte daquela cidade. Viu as luzes da cidade. Desde menina, aquelas luzes a fascinavam. Gostava de pensar que eram estrelas. Essa pensamento a distraía. A voz suave do Paul, a letra da música, o ventinho batendo no rosto, faziam pensar.

Havia vivido tanta coisa, pra estar ali, agora... Poucos seriam testemunhas. Quanto esforço, sofrimento, quantas alegrias e sucessos! Desde que decidira sair daquela cidade, distante quarenta quilômetros, para alcançar um sonho. Não sair para morar, no início, mas sair para ser grande. Ela, do alto de seus um metro e sessenta, queria conhecer e conquistar o mundo! E hoje, ali naquela janela, naquela agradável noite de verão, percebeu que conseguiu. Conheceu mais lugares que seus pais jamais imaginaram, que sua avó, atrevida como ela, certamente havia almejado. Viu Paris ao amanhecer, ao entardecer, viu o sol se por sobre o Rio Tâmisa, estudou, conheceu gente, foi, mais de uma vez, assistir ao vivo seu ídolo Paul, trabalhava na profissão que escolheu, tinha a família mais abençoada e amorosa – naquele mesmo dia, seu pai havia comprado leite desnatado só pra agradá-la. Agora, era morava ali, naquele apartamento de grandes janelas, olhando para a Serra, perto de seu trabalho. Não havia então, conquistado o que sonhou? Certamente que havia.

E ainda há muito a conquistar, pensou. Uma invertida sobre a cabeça sem ajuda da parede é uma delas, sucesos na pós graduação, pela qual era apaixonada, melhorar o mundo com seu trabalho. Beatriz sentia que havia ainda uma longa estrada a percorrer. Mas, naquele instante, limitou-se a dizer: Obrigada, meu Deus.

E foi cuidar de outras coisas. Afinal, não conseguia mesmo ficar muito tempo parada. Havia terras e pessoas a conquistar, amigos e pais para cuidar, céus para voar. Isso, sim, Beatriz tinha certeza, fazia seu coração bater e desejar viver, mais e mais.

* A Long and Winding Road – The Beatles – disco Let it Be, 1970

Voltei. Tava com Saudade.

Hoje eu voltei. Voltei porque senti saudade. Saudade do tempo que eu podia chorar no seu ombro as minhas mágoas, filosofar minhas ide...