Mais uma vez, a inspiração para
escrever veio de uma amiga. Sou afinal, uma pessoa afortunada por ter de Deus
os melhores amigos que poderiam existir nesse mundo. Essa amiga é uma dessas
dádivas na minha vida. Uma pessoa destinada a ser rotulada desde o nascimento:
filha de pais mais velhos, mimada, patricinha, enjoada. Por que as pessoas
insistem em rotular os outros, em vez de conhecê-los? Nesses dias chatos que
vivemos, quando não se pode ter uma opinião*, lendo o artigo do tal francês lembrei-me
da minha amiga. Ele fala do amor com rótulos e talvez não tenha percebido ainda
que brasileiro adora rotular.
É o caminho mais fácil: é melhor dizer que não vai ao Rio porque é violento e pronto. É melhor dizer o Brasil é o país dos corruptos e que o funk é de cultura inferior. Rotulando, não precisamos questionar. É assim e pronto. Rotulando, trilhamos o caminho da intolerância, que não admite o diferente, que se julga superior, ou inferior. Rotulando, não temos trabalho. Rotulando, perdemos um mundo de possibilidades.
Por isso me lembrei da minha amiga, pensando nesses rótulos todos, no que disse o francês, no que dizem os gays e no que diz o Feliciano e companhia, lembrei-me dela. Porque foi numa disposição de nós duas em recusar todos os rótulos, que vivemos juntas momentos inesquecíveis para sempre, que construímos uma amizade que é como uma vara, que se agita e se dobra com o vento, mas não se quebra. Eu a "crente", ela a "espírita" - ou seria “agnóstica”? Palavra que ela aprendeu e adorou, eu a “trabalhadora assalariada”, ela a "patricinha", ela a "delicada", eu a "sem noção" e por aí vai. Desde o início, graças a Deus, ignorei todos os rótulos que ela ouviu por tantos anos. Penso que ela também. Afinal, duas pessoas tão diferentes entre si precisavam ter pelo menos algo em comum e nós tínhamos: o desprezo pelos rótulos. No final saímos ganhando: eu ensinei a ela como fazer molho de macarrão e ela, que não se come a casquinha do pistache. Aprendi a diferença entre blush e rímel, e ela, bem, eu não sei. Sempre acho que estou em débito com alguma coisa. Fato é que nesse exato momento, se eu desmaiar nesse metrô agora e alguém perguntar, darei o número dela e ela virá. Se ela estiver do outro lado do mundo e alguém partir meu coração, é pra ela que vou ligar. E eu sei que se ela estiver com medo de dormir sozinha em casa, se passar mal, se resolver casar, mudar, ela vai me chamar. E eu vou. Me lembro de quando aprendemos juntas sobre oque é uma pessoa livre, ficamos encantadas. Penso que nessa amizade conseguimos nos aproximar desse conceito. Penso no quanto demos sorte de nos encontrar, naquele distante fevereiro, e nos abrir ao mesmo tempo pra esse mundo de possibilidades, que reverberou e cresceu todos esses anos.
Essa menina minha amiga sabe o quanto detesto servir de modelo ou exemplo pra o que ou quem quer que seja. Mas resolvi escrever aqui um pouquinho dessa nossa história, para ilustrar esse mundo de possibilidades do qual falei, que se abre quando recusamos os rótulos, os pré-conceitos, e nos abrimos para o novo. Como um apelo para meus amigos e poucos leitores: sejam menos chatos, menos intolerantes: abram-se para conhecer o novo, o diferente. Tente ter uma atitude mais leve diante das situações. Lembrem-se, todas as manhãs, que o diferente não é pior, nem melhor. É apenas o que é: diferente. E pode ser até interessante, como comer pão com tomate, ou ir numa micareta (pelo menos pra dizer que não gostou).
É tão bom conversar com alguém que não tem "aquela opinião formada sobre tudo"! É tão bom conversar com alguém que sabe ouvir e também sabe falar. Alguém que pega os rótulos e lança ao vento.
Foi o que minha amiga fez. Ainda bem, contra todos os rótulos, conhecemos o mundo. Eu o dela e ela, o meu. De repente, vimos que ele nem é tão diferente assim, e que afinal, o amor é o que realmente importa, e que responde efetivamente a toda intolerância.
Ah... Se for pra fazer um rótulo, faça uma tatuagem!
É o caminho mais fácil: é melhor dizer que não vai ao Rio porque é violento e pronto. É melhor dizer o Brasil é o país dos corruptos e que o funk é de cultura inferior. Rotulando, não precisamos questionar. É assim e pronto. Rotulando, trilhamos o caminho da intolerância, que não admite o diferente, que se julga superior, ou inferior. Rotulando, não temos trabalho. Rotulando, perdemos um mundo de possibilidades.
Por isso me lembrei da minha amiga, pensando nesses rótulos todos, no que disse o francês, no que dizem os gays e no que diz o Feliciano e companhia, lembrei-me dela. Porque foi numa disposição de nós duas em recusar todos os rótulos, que vivemos juntas momentos inesquecíveis para sempre, que construímos uma amizade que é como uma vara, que se agita e se dobra com o vento, mas não se quebra. Eu a "crente", ela a "espírita" - ou seria “agnóstica”? Palavra que ela aprendeu e adorou, eu a “trabalhadora assalariada”, ela a "patricinha", ela a "delicada", eu a "sem noção" e por aí vai. Desde o início, graças a Deus, ignorei todos os rótulos que ela ouviu por tantos anos. Penso que ela também. Afinal, duas pessoas tão diferentes entre si precisavam ter pelo menos algo em comum e nós tínhamos: o desprezo pelos rótulos. No final saímos ganhando: eu ensinei a ela como fazer molho de macarrão e ela, que não se come a casquinha do pistache. Aprendi a diferença entre blush e rímel, e ela, bem, eu não sei. Sempre acho que estou em débito com alguma coisa. Fato é que nesse exato momento, se eu desmaiar nesse metrô agora e alguém perguntar, darei o número dela e ela virá. Se ela estiver do outro lado do mundo e alguém partir meu coração, é pra ela que vou ligar. E eu sei que se ela estiver com medo de dormir sozinha em casa, se passar mal, se resolver casar, mudar, ela vai me chamar. E eu vou. Me lembro de quando aprendemos juntas sobre oque é uma pessoa livre, ficamos encantadas. Penso que nessa amizade conseguimos nos aproximar desse conceito. Penso no quanto demos sorte de nos encontrar, naquele distante fevereiro, e nos abrir ao mesmo tempo pra esse mundo de possibilidades, que reverberou e cresceu todos esses anos.
Essa menina minha amiga sabe o quanto detesto servir de modelo ou exemplo pra o que ou quem quer que seja. Mas resolvi escrever aqui um pouquinho dessa nossa história, para ilustrar esse mundo de possibilidades do qual falei, que se abre quando recusamos os rótulos, os pré-conceitos, e nos abrimos para o novo. Como um apelo para meus amigos e poucos leitores: sejam menos chatos, menos intolerantes: abram-se para conhecer o novo, o diferente. Tente ter uma atitude mais leve diante das situações. Lembrem-se, todas as manhãs, que o diferente não é pior, nem melhor. É apenas o que é: diferente. E pode ser até interessante, como comer pão com tomate, ou ir numa micareta (pelo menos pra dizer que não gostou).
É tão bom conversar com alguém que não tem "aquela opinião formada sobre tudo"! É tão bom conversar com alguém que sabe ouvir e também sabe falar. Alguém que pega os rótulos e lança ao vento.
Foi o que minha amiga fez. Ainda bem, contra todos os rótulos, conhecemos o mundo. Eu o dela e ela, o meu. De repente, vimos que ele nem é tão diferente assim, e que afinal, o amor é o que realmente importa, e que responde efetivamente a toda intolerância.
Ah... Se for pra fazer um rótulo, faça uma tatuagem!
P. S.: eu odeio funk e axé. Mas já fui para o baile, e também para a micareta. Com ela, claro, que também queria ir comigo ver o Paul...
*Hoje, relendo o texto 6 anos depois, posso dizer que continuamos amigas. De fato ela casou e me chamou pra madrinha. E mais importante: há seis anos eu entendia que o mundo estava ficando chato porque as pessoas estavam reclamando de certas "opiniões" . Hoje eu quero que mais gente reclame mesmo, quando as opiniões servem para oprimir, para diminuir, pra humilhar, subjugar e manter o status quo de uma minoria que detém o poder. Minha amiga concorda comigo.