quarta-feira, 20 de março de 2013

Uma crimideia moderna




(cena de "Brilho Eterno...")


Outro dia, assisti pela primeira vez a "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças" e fiquei fascinada com o amor do cara e a forma como ele tenta de todas as maneiras não apagar Clementine de sua memória. Fiquei pensando no grande amor que aquele homem devia sentir por aquela mulher, fiquei pensando que de fato, se a Lacuna Inc. existisse de verdade, e se eu resolvesse contratá-los, como nosso mocinho me arrependeria no meio do processo e tentaria, assim como ele, manter aquela pessoa a todo custo em minha mente. Algumas pessoas simplesmente não podem ser apagadas das nossas vidas. Mesmo que a lembrança de alguns episódios causem certa dor ou desconforto.
Apagar alguém poderia causar grandes alterações como em "Efeito Borboleta", uma amiga me disse outro dia. E é verdade: nossa história é um emaranhado de pessoas, lugares, memórias, sentimentos, saberes: tirando um do lugar, irremediavelmente alteramos o outro e aí está a confusão!
Hoje em dia, vivemos com tanta rapidez: pensamos, publicamos na timeline, mudamos de ideia, compramos, vendemos, nos vendemos, corremos, malhamos, negociamos, preferimos os shoppings às ruas do centro, queremos tudo rápido, tudo o que é fácil e que funciona. E essa cultura me angustia profundamente. Porque nesse redemoinho que entramos, corremos o risco de usar as pessoas como fazemos com as coisas e descartá-las do mesmo modo e com a mesma rapidez. Para onde estamos caminhando? Pessoas não são descartáveis! Não podem ser manipuladas como se manipula peças num tabuleiro de xadrez. Corremos o risco de ver mais um aspecto do universo de George Orwell se realizando em nossa frente.
Em "1984", Winston, um cidadão comum, tenta sobreviver em meio a um contexto extremamente hostil de uma ditatura imposta pelo poder instituído numa Londres fictícia: o Grande Irmão, o Estado, que está sempre determinando e vendo tudo o que se faz ou não se faz.  Winston procura resguardar sua memória quando o governo tenta controlar até o que ele pensa, estabelecendo, entre outros, o conceito de "impessoa", que é alguém que por algum motivo não pode mais ser lembrado. Essa pessoa então é apagada das fotografias, das notícias de jornal, dos registros oficias. Cogitar sua existência se torna um crime: ela simplesmente não existe mais. Penso que o roteirista de “Brilho Eterno...” provavelmente tinha conhecimento dessa estória quando propôs algo parecido no filme. Entretanto, sob a ótica contrária: Uma pessoa, uma história, um amor, mesmo que se tente apagar, permanece no fundo do quarto da memória, brilhando eternamente. Ainda bem que é assim.



Voltei. Tava com Saudade.

Hoje eu voltei. Voltei porque senti saudade. Saudade do tempo que eu podia chorar no seu ombro as minhas mágoas, filosofar minhas ide...